As noções de letramento se estabeleceram no Brasil em 1998, com a obra de Soares e suas considerações acerca da diferença entre alfabetização e letramento. Essa diferenciação se fez necessária por não haver, à época, uma definição para a palavra ‘letramento’ em dicionários de língua portuguesa, por exemplo. Ser letrado significa ser alfabetizado e ir além dessa alfabetização (SOARES, 1998), pois o código em si não basta, já que a linguagem se realiza em contextos sociais e em práticas sociais que envolvem outras habilidades.

A partir daí podemos conceber conceitos como letramento crítico, letramento visual, multiletramentos, novos letramentos, letramento digital e letramento digital crítico. Além de ancorados na visão de letramento “como consequência de ter-se apropriado da escrita” (SOARES, 1998, p 18), essas vertentes destacam aspectos que são percebidos ou compreendidos nas diversas práticas sociais da linguagem. Este é o caso do letramento crítico e do letramento digital.

Em 2006, o Ministério da Educação brasileiro realiza a publicação das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) (BRASIL, 2006). Este documento orienta e sugere novas práticas para o ensino nas redes privadas e, principalmente, públicas, e, nas OCEM de línguas estrangeiras, o documento fomenta a discussão do letramento crítico e da formação de cidadãos que sejam

A imagem acima mostra o personagem Homer Simpson fazendo uso do computador. Ao comando da máquina para que o usuário aperte qualquer tecla para iniciar, o personagem procura a tecla ‘qualquer’. Homer seria um exemplo de indivíduo alfabetizado, mas não letrado, principalmente não letrado digitalmente, pois não sabe como participar do contexto e da prática social tecnologizada.

A perspectiva do letramento crítico abarca a compreensão de cidadania em uma sociedade altamente tecnologizada, como grifado na citação anterior, porém, o letramento digital faz apontamentos importantes e específicos de tal contexto. Ferreira e Takaki (2013) descrevem o letramento digital em pesquisa sobre o ensino de Inglês em escola indígena de MS, e indicam que o letramento digital diferencia o usuário das redes e o letrado digital. O primeiro compreende informações em meios digitais como conhecimento; já o segundo preocupa-se em ir além, “avaliando criticamente as fontes de informações, produzindo e disseminando suas autorias a partir de suas habilidades técnicas e epistemológicas” (FERREIRA; TAKAKI, 2013, p.3). O letrado digital, ainda segundo os autores, seria capaz de “lidar com formas de conhecimentos emergentes, multimodais, contínuos e não lineares como os da contemporaneidade” (ibid).


O letramento digital crítico, como aponta Darvin (2017), trata-se de uma convergência das concepções de letramento digital e letramento crítico.

Letramento digital crítico busca, então, não só preparar o aluno para digitar e abrir textos em dispositivos digitais. Prepara-o para, além disso, compreender textos multimodais e seus diversos contextos, implicações e posições; entender-se como capaz de criar e participar desses textos multimodais; analisar sua participação nos diversos contextos ligados ou não aos dispositivos digitais e suas possibilidades; reconhecer-se como possível aprendiz, criador e disseminador de novas modalidades, criações, dispositivos, usos e interações em distintos contextos.