Pós-humanismo crítico (ing: Critical Posthumanism [1]) é uma corrente de pensamento filosófica que apresenta uma leitura do pós-humanismo (ing: posthumanism), orientando-se por uma perspectiva da teoria crítica (critical studies). Nessa linha de estudo, porfiam-se tanto as noções de pós-humano (ing: posthuman) – referindo-se aos seus avatares, como ciborgues, monstros, zumbis etc. – quanto as do pós-humanismo (ing: posthumanism) – referindo-se ao discurso social, repensando a relação do humano em um mundo de globalização, capitalismo, tecnociência e mudanças climáticas (HERBRECHTER, 2018).

Exemplo relevante está no célebre filme Her (2013), de Spike Jonze, no qual a personagem principal vem a se apaixonar por um robô. De acordo com Chen (2018), Samantha, a cyborgue por quem a personagem principal se apaixona, pode ser considerada humana, visto que é dotada de livre arbítrio, sentimentos e vontades, diferenciando-se somente pelo fato de a sua mente não estar presa dentro de uma “casca” humana.

Salienta-se que o pós-humanismo (ing: posthumanism) pode ser estudado e desenvolvido a partir de diversas linhas teóricas, das quais se destaca o pós-humanismo crítico (critical posthumanism). Ademais, enfatiza-se que a tradução do termo pode apresentar ambiguidades, posto que se deriva do inglês critical posthumanism, comumente traduzido como pós-humanismo crítico. No entanto, deve-se atentar a que o posthumanism (sem hífen) pode ser desenvolvido em correntes filosóficas diferentes, dentro das quais está o post-humanism (com hífen [2]). Cabe, dessa maneira, ressaltar que o pós-humanismo crítico a que nos referimos no presente verbete se refere ao critical posthumanism (sem hífen).

É marcado por seu estatuto de supradisciplinar, desvelando-se muito mais como uma ferramenta teórica por meio da qual se alcançam reflexões sobre as relações contemporâneas, abrangendo homem, tecnologia, sociedade e meio ambiente. Assim, pode ser estudado em interface com as mais diversas áreas do conhecimento, incluindo, mas não se limitando, Teologia, Ética, História, Filosofia, Sociologia, Direito e Linguística Aplicada. Questionam-se, assim, quais são as características que tornam o homem humano, a partir de quando ele se tornou humano e, sobretudo, sua relação de superioridade e de supremacia em relação à natureza.

Ainda, para Braidotti (2013), o pós-humanismo (ing: posthumanism) “marca o fim da oposição entre o Humanismo e o Anti-humanismo e traça um referencial teórico discursivo diferente, olhando mais afirmativamente em direção a novas alternativas”. Assim, propõe-se a pensar as relações de subjetividade do (pós)humano com as condições de existência contemporâneas em uma nova ótica.

Em interface com a Linguística Aplicada (LA), a perspectiva pós-humanista gera fricção, pois a LA, sobretudo pensando a questão dos letramentos, engaja-se em um ensino dentro de uma perspectiva humanista (PENNYCOOK, 2018). Como resultado, há historicamente processos de letramentos que entendem o homem como centro das práticas pedagógicas, não procurando estabelecer e potencializar sua relação com o que lhe é extrínseco, o que hoje é retrabalhado na LA de viés pós-humanista crítico. De fato, aponta-se a necessidade de revisitar as noções humanistas que colocam o homem como fonte de conhecimento e como em controle dos seus desejos e intenções, assim como de discutir a desierarquização dos sujeitos e o desenvolvimento do senso de responsabilidade coletiva (PENNYCOOK, 2018).

Para entender o contexto em que se encontra o pós-humanismo crítico (critical posthumanism) dentro das vertentes do pós-humanismo, recomenda-se o seguinte vídeo:

Para entender um exemplo prático do conceito de pós-humanismo crítico, recomenda-se o seguinte vídeo:

[1] Não se confundir com post-humanism.
[2] Ver Ferrando, 2017, What does POST-HUMANISM mean? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Nw1ZFGyQZ0U&t=9s.